Já sentiu seu coração disparar de repente? As mãos suam frio. A respiração falha. Uma sensação de perigo toma conta. E você não sabe por quê.
Isso pode ser uma crise de ansiedade.
Muita gente passa por isso. Só nos meus anos de consultório, atendi centenas de pessoas com esse problema. E cada uma delas achava que estava tendo algo grave.
“Pensei que ia morrer”, me disse Ana, uma paciente de 28 anos, após sua primeira crise. E esse medo é bem comum.
Vamos entender o que acontece no corpo e na mente durante esses momentos difíceis. E, melhor ainda, como lidar com eles.
“A crise de ansiedade é uma resposta exagerada do sistema de alarme cerebral, que prepara o corpo para enfrentar um perigo que, na realidade, não existe” (BARLOW, 2018).
O que acontece durante uma crise de ansiedade
Uma crise de ansiedade chega sem avisar. Em questão de segundos, o corpo entra em modo de emergência.
É como se alguém apertasse um botão de pânico no seu cérebro. Tudo acontece muito rápido.
O sistema nervoso dispara sinais de alerta. Libera adrenalina na corrente sanguínea. O corpo se prepara para fugir ou lutar.
Só que não há inimigo real. É uma falsa alarme. Mas o corpo não sabe disso.
Muitos dos meus pacientes descrevem como “um tsunami interno”. O neurologista Daniel, que também sofre de crises, me disse uma vez: “É como estar num carro em alta velocidade sem freios”.
Essa tempestade bioquímica explica os sintomas intensos que aparecem.
Sintomas físicos de uma crise de ansiedade
Os sintomas físicos são os mais assustadores. Eles parecem sinais de problemas graves de saúde.
Coração acelerado e dificuldade para respirar na crise de ansiedade
Seu coração dispara. Pode chegar a mais de 100 batimentos por minuto. Você sente cada batida no peito.
A respiração fica curta e rápida. Parece que o ar não entra direito. Muita gente descreve como “fome de ar”.
Carla, professora de 35 anos, me contou: “Era como se alguém estivesse sentado no meu peito. Eu tentava puxar o ar e não conseguia completar”.
Essa sensação de sufocamento gera mais ansiedade. E a ansiedade piora a respiração. Um ciclo difícil de quebrar.
Tremores e suor frio durante uma crise de ansiedade
As mãos tremem. Às vezes, o corpo inteiro. O suor aparece mesmo em dias frios.
É o corpo se preparando para agir. Os músculos ficam tensos. Prontos para correr ou lutar.
“Meus dedos tremiam tanto que não conseguia digitar uma mensagem no celular”, relatou Marcos, um executivo de 42 anos que teve sua primeira crise durante uma reunião importante.
Esse tremor é resultado direto da adrenalina. Não causa dano, mas assusta muito.
Tontura e sensação de desmaio na crise de ansiedade
A tontura vem junto com uma sensação estranha de irrealidade. Alguns descrevem como “ver o mundo através de um vidro”.
Você pode sentir que vai desmaiar a qualquer momento. As pernas ficam bambas.
Na verdade, é raro alguém desmaiar numa crise de ansiedade pura. A pressão arterial até sobe um pouco, ao contrário do desmaio, quando ela cai.
Maria, arquiteta de 30 anos, me disse: “Eu ficava parada, grudada na parede, com medo de cair. Mas o desmaio nunca vinha”.
Sintomas mentais e emocionais da crise de ansiedade
Os sintomas físicos chamam mais atenção, mas os emocionais são igualmente intensos.
Sensação de perigo iminente durante a crise de ansiedade
Um medo arrebatador aparece. Sem motivo claro. Você sente que algo terrível vai acontecer.
É uma certeza irracional. O cérebro está em modo de sobrevivência. Interpreta tudo como ameaça.
“Era como se um urso estivesse me perseguindo, mas o urso estava dentro da minha cabeça”, disse João, um estudante de 19 anos.
Essa sensação é o centro da crise. O medo gera mais sintomas físicos, que por sua vez alimentam o medo.
Medo de perder o controle na crise de ansiedade
Você teme fazer algo embaraçoso. Ou simplesmente desabar na frente dos outros.
Muitos dos meus pacientes relatam medo de “enlouquecer” durante a crise. É uma preocupação comum.
Paula, enfermeira de 38 anos, descreveu: “Eu tinha certeza que ia começar a gritar no meio do shopping. Ou que ia simplesmente cair no chão”.
Na prática, isso raramente acontece. As pessoas normalmente conseguem manter o controle básico, mesmo no auge da crise.
Pensamentos acelerados durante uma crise de ansiedade
A mente dispara em mil direções. Os pensamentos ficam caóticos. Giram em torno de catástrofes imaginárias.
“E se for um ataque cardíaco?” “Vou morrer aqui mesmo.” “Todos vão me ver assim.”
Roberto, um advogado de 40 anos, comparou a experiência: “Era como ter 20 TVs ligadas ao mesmo tempo na minha cabeça, todas em canais de notícias ruins”.
Esses pensamentos alimentam o ciclo da crise. Quanto mais você pensa no pior, mais o corpo reage.
Quanto tempo dura uma crise de ansiedade
A duração da crise é outra fonte de dúvidas. E de sofrimento.
O pico da crise de ansiedade: os minutos mais intensos
Os sintomas pioram rapidamente. Em 10 minutos, a crise geralmente atinge seu ponto máximo.
É nesse momento que crise de pânico é confundido com a ansiedade. Você acha que vai durar para sempre. Mas não vai.
Fernanda, de 25 anos, me disse em terapia: “Aqueles 10 minutos pareciam uma eternidade. Eu não via saída”.
A boa notícia? Após o pico, os sintomas começam a diminuir.
Duração total de uma crise de ansiedade típica
Uma crise completa dura entre 20 a 30 minutos, na maioria dos casos. Raramente passa de uma hora.
O corpo não consegue manter o estado de alerta máximo por muito tempo. Os hormônios do estresse se esgotam.
Tenho acompanhado centenas de crises em meu consultório. O padrão é claro: subida rápida, pico, e depois uma descida gradual.
“É como uma onda. Sobe com força, mas sempre quebra e volta ao normal”, explico para meus pacientes.
Por que a crise de ansiedade parece durar para sempre
Durante a crise, o tempo parece distorcido. Cada minuto se arrasta. Parece que nunca vai acabar.
Isso acontece porque o cérebro em pânico altera nossa percepção temporal. É um fenômeno conhecido.
Lucas, professor de 33 anos, descreveu: “Olhava para o relógio e jurava que tinha passado meia hora, mas eram só dois minutos”.
Saber que a crise tem prazo para acabar já ajuda muita gente a se acalmar durante o episódio.
Como diferenciar uma crise de ansiedade de outras condições
Um dos maiores medos durante a crise é estar confundindo os sintomas com algo mais grave.
Crise de ansiedade x ataque cardíaco: diferenças importantes
Os sintomas podem se parecer. Dor no peito, falta de ar, suor frio.
Mas existem diferenças. No ataque cardíaco, a dor geralmente irradia para o braço esquerdo ou mandíbula. É uma dor que aperta, como um peso.
Na crise de ansiedade, a dor é mais aguda. Muda de lugar. Piora com a respiração.
“A ansiedade pode imitar perfeitamente um ataque cardíaco, mas existem diferenças sutis que um médico consegue identificar” (GORDON, 2020).
Se tiver dúvida, procure ajuda médica. Melhor passar por um falso alarme do que ignorar algo sério.
Quando a crise de ansiedade parece um problema respiratório
A falta de ar na ansiedade vem da hiperventilação. Você respira rápido demais. Isso reduz o CO2 no sangue.
Problemas pulmonares têm outros sinais. Tosse, chiado, febre. E a falta de ar tende a piorar com esforço físico.
Camila, asmática e ansiosa, aprendeu a diferenciar: “Na asma, o ar não entra. Na ansiedade, parece que o ar não é suficiente, mesmo entrando”.
Essa distinção é fundamental para o tratamento correto.
Crise de ansiedade ou desmaio: como saber a diferença
No desmaio verdadeiro, a pressão cai. A pele fica pálida. A visão escurece das bordas para o centro.
Na ansiedade, você sente que vai desmaiar, mas a sensação não progride. A pressão até sobe um pouco.
Eduardo, um paciente de 29 anos com histórico de desmaios, me explicou a diferença: “No desmaio real, eu nem tinha tempo de pensar. Na ansiedade, eu ficava esperando cair, mas nunca caía”.
Essa é uma distinção que tranquiliza muita gente durante as crises.
O que fazer durante uma crise de ansiedade
Existem técnicas eficazes para reduzir os sintomas. E encurtar a duração da crise.
Técnicas de respiração para controlar a crise de ansiedade
A respiração é sua melhor ferramenta. Respire fundo e devagar. Conte até quatro na inspiração. Segure por dois. Solte em seis.
Isso combate a hiperventilação. Ajuda a equilibrar o CO2 no sangue. E manda sinais de calma para o cérebro.
Ensino a técnica 4-7-8 para meus pacientes. Inspire em 4, segure em 7, solte em 8. Três ciclos já fazem diferença.
Teresa, uma paciente de 45 anos, criou um lembrete no celular: “Respire, você não está morrendo”.
Exercícios mentais para acalmar a crise de ansiedade
Distrair o cérebro ajuda muito. Conte de trás para frente a partir de 100. De 3 em 3.
Outra técnica: nomeie 5 coisas que você vê, 4 que pode tocar, 3 que ouve, 2 que sente, 1 que cheira.
Isso ancora sua mente no presente. Interrompe o fluxo de pensamentos catastróficos.
Carlos, engenheiro de 37 anos, usava multiplicações complexas: “Eu focava em resolver 17 x 23 na cabeça. Não tinha espaço mental para o pânico”.
Quando buscar ajuda durante uma crise de ansiedade
Se for a primeira crise, procure um pronto-socorro. É importante descartar outras condições.
Se já souber que são crises de ansiedade, tenha um plano. Alguém para ligar. Um lugar seguro para ir.
E não hesite em buscar ajuda profissional. Terapia e medicação podem ser necessárias.
Júlia, advogada de 32 anos, resistiu por anos ao tratamento. “Achava que era fraqueza minha. Quando finalmente procurei ajuda, minha única pergunta foi: por que esperei tanto?”
Como prevenir novas crises de ansiedade
Prevenir é melhor que remediar. Existem estratégias eficazes para reduzir a frequência das crises.
Identificando os gatilhos das suas crises de ansiedade
Observe padrões. As crises têm gatilhos comuns. Estresse, cafeína, falta de sono, situações específicas.
Mantenha um diário de ansiedade. Anote quando acontece. O que estava fazendo. Como se sentiu.
Marina, uma paciente de 41 anos, descobriu um padrão surpreendente: “Minhas crises vinham sempre na terça-feira. Percebi que era o dia em que eu tomava café extra para aguentar reuniões longas”.
Conhecer seus gatilhos dá sensação de controle. E permite evitá-los quando possível.
Mudanças no estilo de vida que reduzem crises de ansiedade
Exercício físico regular é um dos melhores antídotos. 30 minutos diários já fazem diferença.
Reduza estimulantes. Café, energéticos, alguns chás. Melhore o sono. Pratique relaxamento.
Evite álcool como automedicação. No início alivia, mas piora a ansiedade a longo prazo.
Pedro, um chef de 39 anos, notou grande melhora após mudar hábitos: “Troquei o cigarro por caminhadas. As crises caíram pela metade em um mês”.
Tratamentos eficazes para evitar crises de ansiedade
A terapia cognitivo-comportamental tem excelentes resultados. Ensina a desafiar pensamentos ansiosos. E a enfrentar situações temidas gradualmente.
Meditação e mindfulness ajudam muito. Aumentam sua capacidade de observar sensações sem reagir com medo.
Em alguns casos, medicamentos são necessários. Antidepressivos podem prevenir crises. Ansiolíticos aliviam sintomas agudos.
Rodrigo, professor de 35 anos, combinou abordagens: “A terapia me ensinou a entender as crises. O remédio me deu tempo para praticar o que aprendi sem sofrer tanto”.
Conclusão
Crises de ansiedade são assustadoras. Mas não são perigosas. Não causam danos físicos permanentes.
E o melhor: têm tratamento. Milhares de pessoas superam esse problema todos os anos.
Se você sofre com crises, saiba que não está sozinho. E não precisa conviver com esse sofrimento.
Busque ajuda. O primeiro passo é o mais difícil. Mas também o mais importante.
Conte sua experiência com crises de ansiedade nos comentários. Compartilhar histórias ajuda todo mundo a se sentir menos sozinho nessa jornada.
Referências
GORDON, J. A. Differential diagnosis of chest pain: when is it anxiety and when is it cardiac? The New England Journal of Medicine, v. 382, n. 12, p. 1104-1105, 2020. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK470557/