Transtorno Bipolar: O que é, sintomas e tratamentos

Saiba tudo sobre o transtorno bipolar, seus sintomas, causas e tratamentos disponíveis. Entenda como identificar os sinais da bipolaridade e quando buscar ajuda profissional especializada.
Transtorno Bipolar: O que é, sintomas e tratamentos
O que esse artigo aborda:

Já parou para pensar como seria viver com altos extremamente altos e baixos profundamente baixos?

Para quem tem transtorno bipolar, esta é a realidade diária.

Não são apenas mudanças de humor, são montanhas-russas emocionais intensas que afetam todos os aspectos da vida.

Cerca de 140 milhões de pessoas no mundo todo convivem com esta condição.

E embora seja desafiadora, com o tratamento certo é possível viver bem mesmo com o transtorno bipolar.

Neste artigo, vou compartilhar o que realmente é o transtorno bipolar, como ele se manifesta no dia a dia, e principalmente, como pode ser tratado de forma eficaz.

Segundo Geddes e Miklowitz (2013, p. 1672), “o transtorno bipolar é uma das condições psiquiátricas mais desafiadoras para tratar, mas os avanços recentes em medicamentos e terapias têm melhorado muito as chances de recuperação para muitos pacientes”.

O QUE É O TRANSTORNO BIPOLAR

O transtorno bipolar é uma condição de saúde mental que causa mudanças intensas no humor.

A pessoa alterna entre momentos de euforia ou irritabilidade (mania ou hipomania) e períodos de tristeza profunda (depressão).

Não estamos falando de simples mudanças de humor que todos temos. As oscilações são muito mais intensas e podem durar semanas ou até meses.

Elas afetam o pensamento, o comportamento e o funcionamento diário da pessoa.

Na maioria dos casos, o transtorno bipolar aparece no final da adolescência ou início da vida adulta.

É uma condição crônica, mas com tratamento adequado, a maioria das pessoas consegue controlar bem os sintomas.

PRINCIPAIS TIPOS DE TRANSTORNO BIPOLAR

TRANSTORNO BIPOLAR TIPO I: MANIA E DEPRESSÃO

No transtorno bipolar tipo I, a pessoa tem pelo menos um episódio de mania completa na vida. A mania é tão intensa que muitas vezes leva à hospitalização.

Durante estes episódios, a pessoa pode:

  • Sentir-se extremamente feliz ou irritada
  • Ter energia sem limites
  • Falar muito rápido, pulando de um assunto para outro
  • Tomar decisões impulsivas e arriscadas

Além da mania, a pessoa também passa por episódios depressivos profundos, criando um contraste dramático no humor.

TRANSTORNO BIPOLAR TIPO II: HIPOMANIA E DEPRESSÃO

No tipo II, a pessoa tem episódios de hipomania (uma versão mais leve da mania) e períodos de depressão maior.

Nunca chega a ter um episódio de mania completa.

A hipomania não é tão grave quanto a mania.

A pessoa continua conseguindo trabalhar e manter suas relações, embora com mais dificuldade. Algumas pessoas até se sentem mais produtivas nestas fases.

Já os episódios depressivos podem ser tão graves quanto no tipo I, causando muito sofrimento.

CICLOTIMIA: FORMA MAIS LEVE DA BIPOLARIDADE

A ciclotimia é como uma versão mais branda do transtorno bipolar. A pessoa tem vários períodos com sintomas de hipomania e depressão leve, mas nunca chega aos extremos dos outros tipos.

Para receber este diagnóstico, estes altos e baixos devem estar presentes por pelo menos dois anos (um ano em adolescentes).

Mesmo sendo mais leve, a ciclotimia pode afetar bastante a qualidade de vida e os relacionamentos.

SINTOMAS DA FASE MANÍACA E HIPOMANÍACA

EUFORIA EXCESSIVA E ENERGIA ELEVADA

Na fase maníaca, a pessoa se sente no topo do mundo. Tem uma alegria exagerada, otimismo sem limites e energia que parece nunca acabar.

Esta energia transborda em forma de agitação. A pessoa fala mais rápido, tem muitas ideias ao mesmo tempo e se distrai facilmente. Começa vários projetos sem terminar nenhum.

Muitos pacientes que atendi descrevem esta sensação como “ter superpoderes”. Sentem que podem conquistar qualquer coisa, o que pode levar a comportamentos exagerados ou irrealistas.

REDUÇÃO DA NECESSIDADE DE SONO

Um dos sinais mais claros da mania é a pessoa dormir muito menos. Pode ficar acordada a noite toda ou dormir apenas duas ou três horas por noite sem se sentir cansada.

O mais impressionante é que, mesmo dormindo pouco, a pessoa se sente cheia de energia. Mas esta falta de sono acaba alimentando ainda mais os sintomas da mania.

Este é um sinal de alerta importante. Quando alguém com transtorno bipolar começa a dormir bem menos, é possível que esteja entrando em um episódio maníaco.

COMPORTAMENTOS DE RISCO E IMPULSIVIDADE

Durante a mania, o julgamento fica comprometido. A pessoa se torna mais impulsiva e assume riscos que normalmente evitaria.

Isso pode incluir:

  • Gastar dinheiro excessivamente
  • Fazer investimentos arriscados
  • Dirigir em alta velocidade
  • Ter comportamentos sexuais imprudentes
  • Usar drogas ou álcool

A pessoa perde a noção das consequências. Sente-se invencível e acredita que nada de ruim vai acontecer. Também fica mais irritada quando alguém tenta frear seus impulsos.

SINTOMAS DA FASE DEPRESSIVA

TRISTEZA PROFUNDA E PERDA DE INTERESSE

Na fase depressiva, a pessoa sente uma tristeza intensa e persistente. Perde o interesse em atividades que antes davam prazer, como hobbies, encontros com amigos ou até mesmo sexo.

Este estado vem acompanhado de sensações de vazio, desesperança e desespero. É como se um manto pesado cobrisse todos os aspectos da vida.

Um cansaço extremo também é comum. Até as tarefas mais simples, como tomar banho ou preparar uma refeição, parecem exigir um esforço enorme.

ALTERAÇÕES NO SONO E APETITE

O sono muda drasticamente na fase depressiva. Algumas pessoas têm insônia, enquanto outras dormem demais e mesmo assim acordam cansadas.

O apetite também se altera. Muitas pessoas perdem o interesse pela comida e emagrecem. Outras comem mais como forma de conforto emocional.

Estas mudanças no corpo são sinais claros de que algo não vai bem e contribuem para o mal-estar geral.

PENSAMENTOS NEGATIVOS E IDEAÇÃO SUICIDA

Na depressão bipolar, a mente se enche de pensamentos negativos constantes. A pessoa se sente inútil, culpada sem motivo real, ou acredita que é um peso para os outros.

Há uma tendência a ruminar erros do passado e se preocupar excessivamente com o futuro. A autocrítica se torna impiedosa.

Em casos graves, surgem pensamentos de morte ou suicídio. De acordo com Malhi et al. (2018, p. 274), “o transtorno bipolar está associado a taxas elevadas de mortalidade, com risco de suicídio 20-30 vezes maior que na população geral, principalmente no início da doença e em episódios depressivos ou mistos”.

CAUSAS E FATORES DE RISCO DO TRANSTORNO BIPOLAR

PREDISPOSIÇÃO GENÉTICA E HEREDITARIEDADE

O transtorno bipolar tem forte componente genético. Quando um dos pais tem a condição, o risco para os filhos é cerca de 10%. Com ambos os pais afetados, o risco sobe para aproximadamente 40%.

Não existe um único “gene da bipolaridade”. Vários genes interagem entre si e com o ambiente. Por isso, mesmo com histórico familiar, nem todos desenvolvem a condição.

Estudos com gêmeos mostram que quando um gêmeo idêntico tem transtorno bipolar, o outro tem chances muito maiores de também ter, comparado a gêmeos fraternos.

ALTERAÇÕES QUÍMICAS E ESTRUTURAIS NO CÉREBRO

O transtorno bipolar envolve desequilíbrios em neurotransmissores como serotonina, dopamina e norepinefrina. Estas substâncias ajudam na comunicação entre os neurônios e afetam diretamente o humor.

Exames de imagem mostram diferenças na estrutura e funcionamento de certas áreas do cérebro em pessoas com transtorno bipolar, especialmente nas regiões que controlam as emoções.

Estas descobertas reforçam que o transtorno bipolar é uma condição médica real, não uma falha de caráter ou falta de força de vontade.

GATILHOS AMBIENTAIS E ESTRESSORES

Mesmo com predisposição genética, fatores ambientais muitas vezes desencadeiam o primeiro episódio ou causam recaídas.

Eventos estressantes como perdas, divórcio ou problemas financeiros podem funcionar como gatilhos.

Mudanças no padrão de sono também são importantes desencadeadores, já que o sono está intimamente ligado à regulação do humor.

O uso de substâncias como álcool e drogas pode tanto provocar episódios quanto agravar os sintomas.

Cerca de 60% das pessoas com transtorno bipolar têm problemas com abuso de substâncias em algum momento da vida.

TRATAMENTOS MAIS EFICAZES PARA O TRANSTORNO BIPOLAR

MEDICAMENTOS ESTABILIZADORES DO HUMOR

Os estabilizadores do humor são a base do tratamento medicamentoso. O lítio, um dos mais antigos e estudados, ajuda a prevenir os extremos de humor, tanto para cima quanto para baixo.

Outros medicamentos comumente usados incluem:

  • Anticonvulsivantes (valproato, carbamazepina, lamotrigina)
  • Antipsicóticos atípicos
  • Antidepressivos (sempre com cuidado, pois podem desencadear mania)

A escolha do medicamento depende do tipo de transtorno, dos sintomas predominantes e da resposta individual.

Os ajustes são frequentes até encontrar o esquema ideal para cada pessoa.

PSICOTERAPIAS ESPECÍFICAS PARA BIPOLARIDADE

Tenho visto em minha prática clínica que a psicoterapia é tão importante quanto os medicamentos. Algumas abordagens se mostram particularmente eficazes:

A Terapia Cognitivo-Comportamental ajuda a identificar e modificar pensamentos e comportamentos problemáticos.

A pessoa aprende a reconhecer os primeiros sinais de um episódio e desenvolve estratégias para lidar com eles.

A Terapia Focada na Família melhora a comunicação e reduz conflitos que podem precipitar crises. Quando a família entende a condição, o apoio se torna mais efetivo.

A Psicoeducação fornece informações sobre o transtorno, ajudando a pessoa e seus familiares a gerenciarem melhor a condição.

MUDANÇAS NO ESTILO DE VIDA E AUTOCUIDADO

Manter uma rotina regular é fundamental, especialmente nos horários de sono.

Quando trabalho com pacientes bipolares, sempre enfatizo a importância de dormir e acordar nos mesmos horários todos os dias.

Exercícios físicos regulares têm efeito poderoso no humor. Uma alimentação balanceada também ajuda a estabilizar o humor, assim como reduzir o consumo de cafeína e álcool.

Técnicas de redução de estresse como meditação e yoga são ferramentas valiosas.

Um diário de humor pode ajudar a identificar padrões e gatilhos, permitindo intervenções antes que um episódio completo se desenvolva.

CONVIVENDO COM O TRANSTORNO BIPOLAR NO DIA A DIA

Viver com transtorno bipolar exige adaptações, mas é possível ter uma vida plena.

A chave é manter o tratamento mesmo quando os sintomas estão controlados.

Muitas recaídas acontecem quando a pessoa interrompe a medicação por se sentir bem.

Construir uma rede de apoio sólida faz toda diferença. Familiares e amigos podem notar mudanças no comportamento antes mesmo que a pessoa perceba.

Este sistema de alerta precoce pode evitar crises graves.

Aprender a identificar os primeiros sinais de um episódio é crucial. Pequenas alterações no sono, energia ou pensamentos podem indicar o início de uma crise.

Quanto mais cedo a intervenção, menores as chances de um episódio completo.

Por fim, lembre-se que o transtorno bipolar é apenas uma parte da sua vida, não sua identidade completa.

Muitas pessoas com esta condição têm carreiras bem-sucedidas, relacionamentos saudáveis e vidas realizadoras.

CONCLUSÃO

O transtorno bipolar é complexo, mas tratável.

Com acompanhamento médico adequado, terapia e mudanças no estilo de vida, a maioria das pessoas consegue controlar bem os sintomas.

O diagnóstico precoce e o tratamento contínuo são fundamentais.

Se você suspeita que você ou alguém próximo possa ter transtorno bipolar, procure ajuda profissional. Um médico de família, psiquiatra ou psicólogo pode fazer a avaliação inicial.

Quanto mais cedo o tratamento para o transtorno bipolar começar, melhores os resultados.

Com o suporte adequado, é possível não apenas viver com transtorno bipolar, mas prosperar apesar dele.

Serviços

Whatsapp

Posts Relacionados